8.7.05

Velhas Crônicas: Um Último Adeus

Adeus. Me perdoe por tudo que eu fiz a você. Me desculpe pelos meus erros teimosos. Me perdoe por não conseguir consertar o que fiz. Me desculpe pelo que eu fiz em teu coração. Felizmente isso vai acabar, pois estou partindo.

Não, não é brincadeira. Estou indo. Muito já sofri por causa disto, mas muito mais sofrerei se souber de alguém que sofre junto comigo. Não. Se for por isso, posso morrer tranqüilo, pois ninguém sofrerá por minha causa. Mas, assim como vem o dia após a noite, é certo o meu fim. Melhor assim.

Estou partindo para um mundo onde não há mais nada. Estou morrendo. Meus dias estão extremamente contados. Nunca mais será visto este que um dia pisou na Terra. Irás para o infinito, onde se encontra o nada e o esquecimento. Felizmente será esse o melhor a acontecer.

Adeus. Sei que tudo o que eu fiz foi em vão. Sei que todos que cuidei não precisam mais de mim. Sei também que precisava de ajuda. Fui ajudado tarde demais. Agora eu vou morrer. Morrerei definitivamente, de um jeito jamais esperado.

Felizmente para todos eu vou ir. Mas, se a alma morre, a esperança se renova pelo mundo. Haverá uma morte, e logo após um renascimento. E esse novo que renascerá receberá nova vida. Receberá também potentíssima esperança. Mas será totalmente diferente de mim. Sei que não existe duas pessoas iguais. Mas sei que existe a herança de uma vida errada, a mesma que o renascido deverá herdar. Não era isso que eu queria, mas sei que será inevitável.

Escrevo hoje porque não sei se o renascido saberá escrever do mesmo jeito. Mas tudo bem, do morto só se guarda as palavras. Já do vivo, guarda-se a vida. Já sabia desde o início do ano que minha morte era inevitável. Mas fico muito feliz em saber que haverá um renascimento. E ela será muito importante neste mundo. O mesmo só tem a ganhar.

Perdoe-me se deixo de fazer algo que queria. Nada mais eu faço, estou entrevado em meu leito, onde minha vida se esvai, como a água de um rio que seca aos poucos. Muito tinha que fazer, e que o renascido deverá herdar. Não deixem de ajudar o novo. O velho perdeu para o mundo. O novo precisa ganhar.

Sempre que se lembrar de mim, ponha em foco apenas as boas lembranças, enterrando as ruins. Se bem que não se lembrará, nunca se lembram daqueles que se foram. Essa morte é definitiva, não haverá volta. Dói demais. Não sei até onde vou ir. Mas estou me despedindo, pois estou partindo para o nada. Muito obrigado por tudo que fizeram por mim. Muito obrigado por terem aturado esse velho decrépito, definitivamente em estado de decomposição. Decompõe-se para o fim. O fim da vida. O início de uma eternidade de solidão.

Senhores, agradeço a sua amizade, a sua ajuda, mesmo que pouca. Agradeço as pequenas horas de diversão coletiva que tivemos juntos. Ao mesmo tempo, perdoem-me pelos erros que foram cometidos. Espero paz, amor e compreensão.

Senhoras, obrigado por adoçar minha vida enquanto tive forças para viver. Obrigado por decorarem minha vista com as belas faces, carinhosamente desfiladas diante de mim. Obrigado pelos sorrisos. Obrigado pelos abraços e tudo o mais. Também peço perdão pelos erros cometidos. Feliz eu fico por saber que não haverá mais esses tipos de enganos e desenganos.

Mundo, se essas palavras puderem gritar para os seus olhos, peço perdão por tudo que fiz, e também pelo que não fiz. Me perdoe, mundo, se houve algo errado que não pude consertar. Me perdoe se houve lágrimas, lágrimas que eu nunca mais produzi. Obrigado, mundo, por me acolher em seu espaço cada dia mais escasso. Obrigado.

Senhor, peço que tenha piedade desta alma que vai, e misericórdia para a alma que vem. Pai, se eu posso pedir ainda mais alguma coisa para Ti, então aqui vos peço: Cuide daquele que vem, deixando o moribundo feliz na sua saída. Agradeço, Senhor, por todas as graças, todas as bênçãos concedidas. Cuide do coração deste como jamais foi cuidado o meu coração. Cuide da cabeça dele como nunca. Pai, perdoe os meus pecados, eu lhe suplico. Perdoe teu filho por tudo que então fizeste. Obrigado, meu Pai.

Aqui eu me despeço. Finalmente chegou a hora de dizer adeus. Que a morte seja como o rio, que leva águas velhas, renovando-as por águas novas. Que essa morte seja muito abençoada, e que esse renascimento seja maravilhoso. Obrigado por atenuarem a minha dor de viver mais um dia. Isso, dia após dia, até a minha morte. Obrigado. Obrigado e adeus.

É essa a hora de dizer adeus,

Obrigado

Um comentário:

Anônimo disse...

Bruno, meu filho.... fico triste em ler estas coisas que vc escreveu. Vc é um lindo rapaz, inteligentíssimo, saudável, amigo de todos (mesmo tendo este gênio difícil, sei que ama de verdade aqueles que considera amigos). E, na qualidade de sua mãe, não consigo entender o por quê de tantos momentos de baixo astral. O que te falta afinal? Tens uma linda família, pai, mãe, irmãos, avó que te amam demais, sei que é só uma questão de tempo, e logo haverá (ou já há?) uma garota certa para vc, para poder dividir seus momentos, suas esperanças e etc. Um futuro brilhante, pois sua inteligencia para isto aponta...
Então, a vida está te sorrindo!!!! Por isso sorria vc também para ela!!! Seja mais alegre, pois vc tem todos os ingredientes para vencer!!!!
Te amo demais....
Tua mãe.