16.9.11

Quando Não Há Um Adeus



Domingo de sol ameno, incomum para a cidade. Uma brisa refrescante atenuava ainda mais o calor da quente cidade de Manaus. Em frente à imponente cúpula do belo Teatro Amazonas, caminhava pensativo o jovem Tiago. Vestindo roupas simples, calçando suas havaianas de cor azul, contrastando com o Preto da bermuda e o Vermelho da regata que completavam seu vestuário, Tiago observava as pessoas nas praças, principalmente os casais enamorados que se aninhavam nos bancos debaixo das árvores.

Com um triste olhar recordava as atitudes impensadas que tomara não faz muito tempo, e que impactaram violentamente sua própria vida. Um rosto. Sim, um rosto que tomara de assalto a sua vida e que mudara para sempre o seu coração. Bárbara.

Olhos penetrantes, sorriso meigo, voz doce, Bárbara é a mulher que todo homem gostaria de casar. Desde a primeira vez que a conheceu, fazia pouco mais de dois anos, não possuía outro rosto em sua mente. Assim que a conheceu sabia que não era uma mulher como as outras, não se importava com a sua humildade, mas queria algo sério, algo duradouro. Buscava a todo tempo sua presença, e assim Tiago se sentia importante, amado, feliz. Não compreendia como ela havia se ligado a ele em tão pouco tempo, mas sabia que não era paixão, era puro demais.

Mas por algum motivo o qual Tiago não compreendera até aquele momento de caminhada descendo a Rua Barroso, ele não retribuía da mesma maneira. Ele a amava, sim, e muito! Entretanto, não sabia nem conseguia retribuir esse amor que recebia da Bárbara à altura. E, na imaturidade de quem não quer crescer, muitas vezes se flagrava pensando “será que meu amor é real?”, e ficava taciturno.


Bárbara sempre buscava surpreende-lo, seja com sorrisos, seja com convites para sair. Comprava roupas para ele, mas ao invés de agradecer Tiago se sentia humilhado. Deus, quantas brigas houveram por causa disto! Bárbara deixava só uma lágrima furtiva brotar do seu olho, mas sorrindo dizia “tudo bem, amor, eu entendo” e, embora a condição financeira dela fosse substancialmente melhor que a dele, ela se privava de ajudá-lo, embora seu coração sofresse por causa disso.

Tiago já estava próximo da feira da Manaus Moderna ao se lembrar de quando a encontrava e ela estava de joelhos, orando e chorando pelo namoro deles. Seus olhos embargavam ao recordar as palavras que a escutava dizer: - “Senhor, me faça capaz de fazê-lo feliz, não quero perde-lo”.  Ele não era capaz de anunciar sua chegada, apenas observava, covardemente, sem saber como agir. Ela se levantava e ele, já sentado no sofá da sala, era recebido com o mesmo sorriso cativante de sempre. Sorriso de quem está se encontrando com o amor da sua vida.

Mas o último ano de namoro foi muito duro. Tiago e Bárbara começaram a discutir pelas coisas mais banais. Uma moeda no bolso contrário da calça já era motivo para uma discussão boba que desgastava cada vez mais o relacionamento. Tiago não era de conversar, não sabia como sentar com ela e discutir seu relacionamento, não era seu feitio. Quando Bárbara redargüia, ele simplesmente dizia “não quero mais falar sobre isso” e dava as costas, meneando a cabeça negativamente.

Descendo as escadas do porto da Manaus Moderna, os olhos ficavam opacos e vermelhos quando trouxe à memória Bárbara subindo no ônibus rumo a Itacoatiara, após ser aprovada no vestibular de uma universidade pública. Chorando compulsivamente, abraçou-se a Tiago e disse, nos seus ouvidos “eu te amo muito... Por favor, não se esqueça de mim”. Agora quem não conseguia conter o pranto era ele, com a imagem daquele ônibus saindo da rodoviária.

Foi a última vez que ele a vira, pois naquela mesma noite o ônibus capotara e explodira, e a Bárbara que Tiago tanto amava tinha se partido deste mundo. No velório, Tiago ficou em silêncio, inerte, abraçado aos pais dela, que sofriam a perda irreparável da amada filha. No coração dele, um rasgo que apenas começava, e que se tornou a maior cicatriz que ele um dia poderia viver.

E agora, dentro do Barco rumo a Santarém, Tiago observa o por do sol deslumbrante no Rio Amazonas, em pleno Encontro das Águas, sabendo que a sua vida continua. Mas que seu coração morreu no momento que o seu amor se foi. E ele não foi capaz de retribuir o amor que jamais receberia de outra mulher. Poucas vezes foi capaz de dizer a ela que a amava. E agora era tarde demais.

Mas ainda não é o fim. Tiago colocou seus caminhos nas mãos de Deus, e na fé que é capaz de contrariar a própria esperança ele sabe que para o SENHOR nada é impossível. E que Ele o ama com um amor muito maior que o ser humano é capaz de compreender.
       
E sua vida seguirá em frente com Cristo.

3.9.11

Será???


A ARTE DE SER POBRE

Escrito por um duro

Não faz muito tempo e a pobreza era considerada um status social para ser combatida. Mas certa vez nosso ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que "ser pobre é uma arte". Sinceramente, ser pobre há muito tempo deixou de ser status social e se tornou uma arte só dominada pelos peritos que a vivenciam. Posso descrever sobre isso com algumas poucas palavras (afinal, pobre que é pobre economiza até nas palavras):

1 - SER POBRE É SER RESISTENTE: A arte da pobreza se resume muito pela sua resistência física. Afinal, pobre dorme no chão (por não ter dinheiro para comprar um colchão), fica em pé na fila do banco (porque não possui conta), tem que possuir bons níveis aeróbicos e anaeróbicos (pra aguentar correr atrás de ônibus lotados, carregar cesta básica doada pela prefeitura, etc.), e acima de tudo suportar as pancadas violentas que a vida lhes dá gratuitamente;

2 - SER POBRE É SER EQUILIBRISTA: Essa arte única de se equilibrar na corda bamba é um dos talentos mais visíveis do pobre. Afinal, ele é capaz de viver sempre no limite, se equilibrando em contas, dívidas e falta de salários. Sobreviver a isso por mais de seis meses sem ser morto por um agiota é uma habilidade única;

3 - SER POBRE É SER DISTRIBUTIVO: Já viu casa de pobre? Geralmente tem uma cadeira, duas latas ao contrário, uma mesa feita com rolo de fio de telefone e um tampo de madeira, uma rede remendada e 10 pessoas que precisam ser alojadas pra comer. Quando consegue comprar um bombom é preciso repartir por todos, e em tamanho igual pra não causar ciúme. Essa arte de precisão e destreza é o que faz o pobre habilidoso em distribuir;

4 - SER POBRE É SER CORAJOSO: Catar latinha de madrugada no bairro perigoso da cidade, carregar papelão e tralhas na carroça carregada por ele mesmo no meio do trânsito da pior avenida, mergulhar na água podre atrás de garrafa pet pra vender... Só mesmo um pobre (ou um doido varrido) pra tomar atitudes de tanta coragem!

Bem, como vocês viram, ser pobre é uma arte. E eu farei a minha, sobrevivendo a um feriadão sem um tostão no bolso...