9.7.04

Um sonhador


Viver um mundo diferente, onde nem tudo é exatamente como se acredita. Ser diferente, fugir do status quo, ser surpreendente a cada segundo, fazer o que as pessoas têm vergonha de fazer, ser o que o povo tem medo de ser, ver o que o mundo evita ver. Talvez exótico, talvez diferente, talvez corajoso. Mas a verdade é uma só: Todos conheceram ao menos uma vez um sonhador.

Idealizar mundos perfeitos, amores perfeitos, trabalhos perfeitos, fugir do convencional e ser “humano” o suficiente para aceitar e entender seus erros. Corrigir falhas, tentar novamente, nunca desistir da verdade, da honestidade, da fidelidade, da amizade, do amor, dos sonhos, dos seres humanos. Lutar, dia após dia, contra a descrença e o desânimo, para assim vencer.

Não, o sonhador não é um ser perfeito. Para ser sincero, foge dele uma coisa fundamental nos dias de hoje: A realidade. Por muitas vezes um sonhador acredita em algo que não existe. Todos nós somos sujeitos a falhas. Devemos saber também aprender a aceitar e pedir desculpas por nossos erros. O sonhador assim o faz, e luta pelo que é certo, sem desistir jamais.

O sonhador acredita no amor como o maior de todos os presentes de Deus. Ele sabe que, sem o amor, não há fé ou esperança. Ele briga contra tudo e contra todos para mostrar que se pode amar, mesmo nos dias de hoje, de ódio e traição. Ele demonstra, a todo o momento, que a amizade é uma forma de amor, e que todos nasceram para amar.

Tenta lançar aos olhos do homem a verdade do espírito, onde nada pode ser escondido. O sonhador não vê com os olhos da face, que mostram apenas a aparência externa do ser; tampouco, os olhos do coração, que iludem, apesar de mostrar o externo do coração, já no interior da pessoa. O sonhador vê com os olhos do espírito, que vê além da carne, e no interior do coração, local proibido.

Com esse olhar se pode conhecer as pessoas. O sonhador tem esse dom tão evoluído que é capaz de compreender o coração das pessoas mesmo à distância, seja por texto, voz ou gestos. O sonhador sequer precisa ver para sentir ou conhecer. Ele aprendeu apenas a entender as pessoas, o que é a atitude mais difícil de ser aprendida pelo ser humano, imperfeito como um todo.

Por muitas vezes foge de seu conhecimento a causa ou a razão, mas jamais o sentimento. O sonhador vê com o espírito, sentindo o que o próximo sente. Com isso, torna-se conhecedor da dor, da tristeza, da desilusão, e a pior de todas, a desistência. O sonhador estende sempre a sua mão, mesmo sabendo que a pessoa possivelmente não faria o mesmo com ele. Sonhar é fácil. Fazer é difícil.

Por inúmeras vezes o sonhador perde a razão, tentando impor algo que deve ser ensinado lentamente, para não haver o choque. Por mais que conheça a verdade, tenta passa-la de modo errôneo, tornando-se pessoa desagradável e impertinente, fugindo inclusive de sua ideologia, que diz que nada deve ser imposto, mas ensinado, para que tenha efeito.

Esse é o “mea-culpa” de um sonhador, que por diversas vezes tentou impor seus conceitos, e não foi sábio o suficiente para entender que estava errando. Foi uma noite fria de montanha que pôs em ordem a cabeça deste ser, mostrando seu engano e engajando-o a corrigir tal falha. Essa pessoa entendeu que só deve ajudar as pessoas que querem a ajuda, e não as que desistiram. Essas não têm cura.

E esse sonhador vai seguindo por sua estrada, sabendo que será ignorado por todos, por fazer o que os homens temem, e ser o que o mundo queria. Sempre ajudando o próximo, desde que esse precise, e aceitando ajuda de quem quer ajuda-lo, vivendo e errando, pois errar é humano. Porém, persistir no certo não é burrice, mas sim coragem. Coragem que falta ao mundo, mas sobra a um sonhador.

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