14.9.10

Quando É Tarde Demais Pra Voltar Atrás


- Você me ama?

Com essa pergunta, Amanda tentava buscar uma resposta de César. Mas ele não respondeu, só observou. Amanda suspirou. Tentava entender como tudo chegou a esse ponto. Revisitou o passado em busca de respostas. E recordou de toda a sua história.

Cerca de um ano atrás, ela estava solteira. Havia terminado um relacionamento de quase cinco anos. Chegou a noivar, a marcar a data do casamento, mas incompatibilidades impediram que eles ficassem juntos. Amanda havia decidido abrir mão de relacionamentos quando acidentalmente conheceu César. Um rapaz bonito, educado, entretanto diferente de todas as pessoas que conhecera.

Rapidamente o carinho de César começou a confortá-la. Ele era presente, e suas palavras de carinho e saudade a conquistou. Logo ela se viu amando, e o coração dela tinha sido dado a ele. Era fato, ela era dele, somente dele. Deus havia tocado no amor dela, e pela primeira vez ela disse:

- Eu te amo, César.

César sorriu, e a abraçou, e depois a beijou. E por muito tempo foi assim, um amor sincero, de muito carinho e de muita presença. Ela se sentia a mulher mais feliz do mundo, pois desta vez era amada, se sentia amada. Sim, César nunca disse "eu te amo" para ela, mas precisava? Amanda sentia nos gestos e nos atos todo o amor dele, e isso pra ela era o mundo.

Mas de uns tempos pra cá ele começou a mudar. O carinho, antes tão latente, esfriou. As palavras de carinho sumiram. Pouco ele a procurava, e quando estavam juntos ele era distante, chato, reclamava de tudo... E estava sempre com a cabeça longe. Amanda acreditava que era coisa da cabeça dela, e tentava variar os atos, pensar diferente, fazer mais surpresas... Mas ele estava diferente, muito diferente. Não lembrava mais o César que tanto carinho tinha dado a ela.

Amanda enfim perguntou a César o que estava acontecendo, e a única resposta foi a já batida "nada não". Como nada, ele está longe, nunca foi assim, como assim "nada"? Ela ficava taciturna, sem saber o que pensar. Não era mais o mesmo César, aliás, pra ela era outro homem. Sabia que haveria dias ruins, mas ele estava esquisito demais, se tornava um estranho com ela.

E era isso, ele tinha se tornado um estranho. E ela começou a sofrer.

Ela acordava chorando de madrugada, ligava pra ele, mas o celular estava desligado. Mesmo quando estava ligado, ou ele desligava ou ele mandava ela deixar ele dormir. Abraços? Quais? Não havia mais braços que ficavam em torno dela, e quando ela a abraçava ouvia "nossa, que grude" e ele se afastava.

A cada dia que passava estava Amanda mais sozinha na multidão, até que uma decisão muito dolorida ela teve que tomar.

- Você me ama? - Perguntou Amanda.

Novamente, o silêncio foi a resposta. Ela o observou, ele notou e perguntou "o que foi? Por que esse olhar?". Ela respirou fundo, fechou os olhos, pressionando uma lágrima que queria cair, e disse as palavras que cortaram seu coração:

- César, não te conheço mais. Fiz de tudo pra ficar contigo, mas você não valoriza. Eu me doei pra você, vivi por você, mas você não me dá nem mais um abraço. Beijos? O que são? Não sei mais o gosto dos seus lábios. Você é um estranho. E eu não fico com estranhos.

- Amanda, para com isso! - Retrucou César - Você que é grudenta demais, tá sempre encima! O que foi? Quer terminar? Termina então, ora!

Amanda olhou com um olhar de fúria, e as lágrimas começaram a descer. Contudo, ela não fazia cara de choro, só de raiva. Ele observava-a impassível, desafiando-a. Ela enfim fechou os olhos, as lágrimas pararam de descer, o vermelho do rosto desapareceu e ela respondeu com todas as palavras:

- Obrigado por estar presente quando eu mais precisei. Mas hoje você não quer mais estar comigo. E eu preciso de uma pessoa que me queira todos os dias. Piorei? Que me ajude a melhorar. Mas que esteja comigo nas horas boas e nas horas más.

César deu de ombros e disse "Você que sabe".. Isso foi a gota d'água para Amanda, que de rompante virou as costas e foi embora, deixando-o sozinho. Ela correu chorando até sua casa. Não acreditava que uma pessoa que sempre lhe deu amor agora estava simplesmente deixando-a ir. Mas ela foi.

Passadas três semanas, Amanda teve um baque: César estava namorando. Sorrateiramente ela foi até sua casa, e viu o jeito carinhoso dele tratar uma moça. Mais carinhoso até que ele sempre foi com ela. Chorando, voltou pra casa. Descobriu com o tempo que ele não a traiu, mas fez de tudo pra que ela terminasse, pois não queria se sentir culpado de terminar com ela e depois namorar outra mulher. Amanda, com isso, ficou sozinha por algum tempo, até encontrar Humberto.

Humberto era simpático, divertido, e equilibradamente carinhoso. Presente sempre, gostava de ir onde ela ia, e a acompanhava. Por quase seis meses eles saíram, mas nada aconteceu, era saídas de amigos, com muitas conversas mas nenhuma investida. Até que certo dia, vendo uma cena romântica de um filme no cinema, as mãos se entrelaçaram, os rostos se juntaram e os dois lábios se provaram. Assim começava um namoro novo para Amanda. Humberto não tinha a beleza ou a condição financeira do César, aliás longe disso, mas ele era presente e demonstrava todo dia que a amava, e falou pra ela a frase que ela sempre quis ouvir, "eu te amo".

Entretanto, repentinamente César reapareceu como um furacão na vida da Amanda, pedindo perdão e querendo voltar pra ela. Ela ficou confusa, pois apesar de se sentir feliz com o Humberto, ainda estava atraída por aquele home a quem se deu por completo. Assim, ela cedeu às investidas de César várias vezes antes de terminar com o Humberto, dizendo pra ele que ele merecia mulher melhor. E voltou para César.

Mas o que Amanda não sabia é que César não tinha só a ela como namorada. Qualquer mulher mais bonita que desse oportunidade ele estava encima. E Humberto, humildemente, disse a Amanda que a esperaria o tempo que fosse necessário. Sempre dizia que a amava, mas ela fazia pode dura. Entretanto, ela tinha a certeza dentro do coração que com Humberto seria feliz. Com César, cada vez mais canalha, não estava sendo como gostaria. Sim, saíam, faziam coisas juntos, mas na maior parte do tempo ele estava longe.

Amanda perdeu a conta das vezes que sentiu ciúmes dele por causa de outras mulheres, achando que elas estavam dando encima de César. Pobre iludida, na verdade era César que as cantava, e ele falava pra Amanda que eram elas para que ele saísse de bom moço. E a Amanda acreditava.

Mas teve um dia que ela viu novamente ele com outra menina, e desta vez ambos brigaram tão feio que ela terminou com ele, que ainda disse "tudo bem, o importante é que você foi minha, e quem ficar contigo vai ter que saber que já fiz de tudo com você", o que a fez se sentir humilhada.

Nessa hora, se lembrou Amanda de Humberto, aquele rapaz sincero que sempre a amou de verdade. Porém, para ficar com o César a Amanda acabou se afastando dia após dia dele, até que ambos perderam contato. Se encontravam semanalmente na Igreja, mas devido ao ciúme de César (ele podia fazer, ela não) Amanda sequer se aproximava dele. Mas agora estava livre, e buscou novamente aquele que a fez se sentir amada, aquele que tinha capacidade de fazê-la feliz.

Quando Amanda ligou chorando pro Humberto, ele quis saber o que aconteceu. Ela disse tudo, das burradas que fez, da dor que sentiu de novo, que ela sabia que ia dar errado, mas era ele quem ela queria, ela tentou assim mesmo. Humberto conversou com ela, com seu carinho de sempre, e assim marcaram de se encontrar. Ao se encontrarem, se abraçaram, ela chorou de novo, e quando ela foi beijá-lo, a surpresa: Humberto colocou dois dedos entre as duas bocas, impedindo o ato. Amanda, estupefata, perguntou "você não disse que me amaria pra sempre?", ao passo que Humberto respondeu as palavras que Amanda jamais esquecerá.

- Amanda, eu te amo muito, pra sempre mesmo. Mas quando você escolheu seu ex-namorado, mostrou pra mim que eu fui só um curativo para o seu coração. Eu sempre fui teu, mas hoje eu estou namorando, uma pessoa que gosta de mim de verdade, e por amor a você eu vou ficar com ela. Porque você não me quer, e toda vez que outro homem te atrair, você vai terminar comigo. Porque você já sabe o que esperar de mim, e sabe que sempre serei assim.

Amanda ainda tentou argumentar, mas Humberto, carinhosamente, deu-lhe um beijo na testa e foi embora, calmamente. Amanda, atônita, via-o partir sem ter sequer forças para chama-lo. ela queria dizer "fica comigo, eu  te amo!", mas não se sentia forte o bastante pra isso. Mal sabia ela que se dissesse o que seu coração queria dizer, o teria de novo. Mas não se sentiu forte pra isso.

Agora Amanda não tinha mais o homem que ela amava, e não tinha mais o homem que a amava acima de tudo. Amanda estava sozinha, em meio a homens que só a viam como carne e como sexo fácil.

Ela perdeu o amor.

E chorou.

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