18.9.10

Quando Decidimos Com O Amor


Um belo sol de outono nas praias da Baía de Guanabara. Uma suave brisa fria passeava sobre as areias daquela faixa de areia de Niterói (RJ). Sentado naquele banco naquela marina de pedras entre duas praias, se encontrava Daniel. Observava as poucas marolas que beijavam os pedregulhos que sustentavam a praça à beira-mar.

Dentro daquele coração um filme intenso passava. Refletida nos dois olhos castanhos estava a vida deste rapaz que estava tomando aquela que seria uma decisão para toda a vida. Olhos vidrados no mar, muitas palavras passavam em sua mente. Sim, ele sabia que na hora as mesmas palavras sumiriam, mas assim mesmo pensava nelas... E assim se encontrava quando uma suave voz feminina cortou o silêncio:

- Daniel?

Era Paula. Durante dois anos tiveram um namoro muito intenso. Por erro de atitudes, tomaram decisões que acabaram por afastá-los. Aquela pequena menina de cabelos longos e ruivos, rosto adornado por belos olhos de esmeralda, boca bem desenhada e face levemente sardenta era até hoje a maior influência dentro do seu peito. A voz de Paula ecoou pelos ouvidos de Daniel, inclusive sendo ouvido pelo seu coração, que disparou imediatamente.

- Daniel? Você está aí? – Perguntou Paula com um sorriso.

- Sim, estou – Respondeu Daniel, sem graça – É que estou pensando longe.

Levantando-se Daniel daquele banco, ficou frente a frente com aquela mulher que sempre foi verdadeira com ele. Lembra quando, por imaturidade, acabaram por deitarem juntos. Lembra que nada foi forçado, mas que deveria ter esperado. O fato de ter experimentado o sabor dela acabou por bloqueando-os no conhecimento mútuo. E hoje, um ano depois de terem terminado, ele sentia que a conhecia bem mais do que havia conhecido em dois anos de tórrido relacionamento.

- Paulinha, tenho uma coisa pra te dizer.

Os olhos dela vibravam. A luz esverdeada que havia em seus olhos estava ainda mais viva. Observava Daniel, sorriso nos lábios meio que incontido, como uma criança que aguarda dos pais o presente tão desejado. Daniel suou frio, afinal ele ia dizer algo difícil, e ela seria a primeira pessoa que saberia. Observando o céu (não foi capaz de olhar nos olhos de Paula), Daniel respirou fundo e informou, finalmente:

- Paulinha, estou indo embora daqui.

- O quê? – Respondeu com um grito Paula – Como assim “estou indo embora daqui”?

Daniel tremeu. Será? Não, fazia tempo. Eles ficaram distantes por quase dez meses, e faz apenas poucas semanas que voltaram a se falar, com certa distância... Após um suspiro, Daniel prosseguiu:

- Paula, aqui não é mais o meu lugar. Estou indo para longe, onde novos caminhos e novas portas estão se abrindo para mim. Mas queria falar contigo, uma vez que tivemos uma história, e... – Daniel hesitou – E você ainda é importante para mim e jamais faria algo sem te comunicar.

Os olhos de Paula começaram a brilhar mais, um brilho diferente. Daniel percebeu que aquele brilho tal como uma pedra preciosa na verdade era uma lágrima furtiva que naquele exato instante se revelou, descendo involuntariamente no seu rosto levemente sardento, e logo após outra lágrima, e outra...

- Daniel... Por quê? Tem certeza que vai embora? Confesso que quando você me chamou pra te encontrar aqui, imaginei que o assunto era outro... Nossa, que surpresa... – Paula colocou as mãos no rosto, e começou a chorar pesadamente – Não... Não pode ser verdade... Me diz que é brincadeira, Daniel... Não, você não é de brincar... Jesus, era a última notícia que eu esperava ouvir... – E as suas palavras sumiram em meio ao pranto incontido.

Profundamente abalado com a reação dela, Daniel simplesmente abriu os braços em sua direção, como em um convite... Convite esse que foi logo aceito por Paula, que desabou em seus braços, com lágrimas tão espessas que chegaram a molhar a roupa de Daniel. E durante cerca de cinco minutos aquele abraço forte e envolvente foi acompanhado pelo mais absoluto silêncio, mas um silêncio diferente, como se o coração dela gritasse tão alto que todos haviam se tornado surdos, e somente o seu coração ouvia.. E era tão agudo que ele começou a chorar também.

- Daniel... Você está chorando... – Perguntou-lhe Paula.

Mas ele nada disse, apenas deu um passo para trás, segurou seu rosto, colou sua testa na dela, observou aqueles olhos vermelhos onde duas esmeraldas reluzentes incandesciam ainda mais por causa do choro, cerrou sua visão, respirou fundo, e...

Surpreendente foi a sensação de aqueles lábios encontrarem os seus. Ele conhecia aquele perfume, já provara aquele gosto, mas era diferente. Tinha algo diferente, muito mais intenso, muito mais pungente, seria... Amor? Só poderia ser, pois Daniel sentia seu coração pegar fogo como jamais sentira. Era um beijo bem comportado em comparação a outros que eles já deram, principalmente entre quatro paredes, mas... Era muito diferente de tudo, era perfeito aquilo, ele poderia ficar o dia inteiro... E de fato, por mais de dez minutos aquele gesto se manteve, até que Paula se separou dele, e observava ao fundo da marina o sol se pondo, vermelho e imenso, quase como um farol que iluminava o corpo de Daniel. Foi então que, olhar decidido, ela disse:

- Se você vai, eu também vou. Não vou te perder de novo.

Daniel ouviu, sorriu e voltou a chorar. Paula apenas o abraçou de novo, e passando os dedos embaixo dos seus olhos, secando as lágrimas que teimavam em descer, disse “não chore amor, a distância serviu para que pudesse ver que você é o homem que eu amo, e eu vou onde você for, não importa a luta, a dificuldade”. Um novo beijo, com um amor ainda mais potente se seguiu, e ao mesmo tempo, à luz daquele pôr-do-sol pintado em aquarela por Deus, duas vozes ressoaram, juntamente:

- Eu te amo.

Assim, Daniel e Paula deram as mãos, e caminharam pela orla, juntos.

E desta vez, para sempre.

2 comentários:

Jordana disse...

Uau!

Que emocionante...

Seria essa uma realidade bem recente?

ingrid bianca disse...

Nossa bruninho
mt bom...