20.8.05

O grande vôo da Fênix

A busca pelo autoconhecimento. Todos os percalços que existem começam a crescer, a se multiplicar. As barreiras começam a parecer mais robustas, intransponíveis. Quanto mais eu oro, mais muralhas crescem perante mim. Estou sem chão. Parece que eu estou em um mundo etéreo, um limbo envolvente, um vazio constante. Velhas perguntas ecoam em minha mente: “quem sou eu?”, “por que existo?”, “por que sou assim?”... E, como se fossem flechas flamejantes, atiradas furiosamente por exímios arqueiros, traspassam impiedosamente meu coração, minha mente... E assim eu não sei quem sou.

A cada passo que eu dou em busca do meu verdadeiro “eu”, vejo o quanto errei com o passar doas dias. Desde que decidi recuperar a minha identidade, só encontro em minh’alma a mais perdida agonia, a mais intensa dor. Desta vez, todos os meus fantasmas, todos os meus temores, todas as minhas mazelas adormecidas resolveram se manifestar de uma só vez. Encontro-me diante da maior batalha espiritual que tive até hoje. No plano metafísico, ouso dizer que é a maior batalha que enfrentarei. Deverei destruir definitivamente o mal que há em minha existência, ou... Aceitar que ele me domine, sendo entregue para a má índole, a má conduta, me entregar ao mal... Não, isso não! Ainda é cedo para pensar no pior.

Deverei combater o temível fantasma da imaturidade, que sempre me assolou por todos esses anos já vividos. Será o mais poderoso exorcismo já praticado por um ser humano vivo. Deverei arrebentar as amarras da infantilidade, que ainda me prendem, e expulsar de forma definitiva todas as criancices que hoje imperam em minhas atitudes. Esse mal me acompanhou por toda a minha vida, afastando pessoas importantes de mim, e sei que não posso conviver mais com isso. Preciso vencer esse mal! Só não sei como ainda...

Mas isso é fácil, se comparado com a minha intensa instabilidade sentimental. Um homem de extremos, de pensamentos e atitudes extremas, com pensamentos falhos, sempre explodindo desnecessariamente... E que põe em dúvida a minha real índole. Afinal, se posso ser tanto bom quanto mau, se posso tanto amar quanto odiar, tudo isso junto e em menos de um segundo, quem sou eu?

E para onde vai as minhas pseudo-virtudes? O romantismo, o carinho, o afeto... Para onde isso tudo vai? Melhor dizendo, para onde foi? É outra coisa que eu preciso descobrir o mais rápido possível. Ainda não fui capaz de controla-los, e por tal creio ser impossível acha-los nesse momento. Somente o tempo (sempre o tempo) poderá me ajudar.

E assim abro as asas de fogo, e com o farfalhar violento do romper da inércia, alço vôo. Começa hoje o grande vôo da Fênix eterna, em busca do meu ser, em busca da minha identidade. Tenho medo do porvir, mas o que fazer? Que Deus possa me guardar por cada caminho negro, e que eu possa simplesmente encontrar o equilíbrio que jamais existiu na minha vida. Que meu coração não seja mais tão intenso, mas sim imenso. Que meu amor não seja forte, mas sim puro. Que meu carinho possa enlaçar, e não prender. Que minhas palavras possam confortar, e não sufocar. Que eu possa sorrir, e nunca mais chorar por causa de erros.

Obviamente não vou conseguir alcançar meu destino sozinho. Conto com cada pessoa importante na minha vida. Seja com uma palavra de carinho, um abraço, um beijo, um sorriso, um bilhete, um telefonema, um olhar, tudo que possa me fortalecer, tudo que me dê certeza que não posso desistir de me encontrar. Conto com cada amizade que as pessoas nutrem por mim. Necessito não só do saber, mas também da manifestação plena desse sentimento. E assim acredito que possa viver a minha vida com paz, tranqüilidade e, principalmente, certeza de quem eu sou. Mesmo que a solidão jamais me abandone; mesmo que o abandono do amor seja uma verdade; mesmo que o coração jamais pense em outra mulher. Mas que eu seja feliz.

Cerro minha visão... Imagino um mundo cheio de paz... De amor... Imagino um sorriso perfeito dado por uma mulher com sentimentos verdadeiros, com palavras de amor e demonstrações de carinho... Tudo aquilo que não tenho... Tudo aquilo que nunca tive... Tudo aquilo que tanto anelei ter... Tudo aquilo que eu perdi... Tudo aquilo que nunca vou encontrar. Busco tudo isso nos sonhos, pois a realidade jamais me presenteará com essa bênção.

Para dizer a verdade, já desisti de ser feliz com alguém. Acredito cada dia mais no amor recíproco, no perfeito amor, mas desisti de acreditar que um dia essa será a minha verdade. Não é vergonha aceitar a realidade; vergonha é persistir no que é errado, e abrir mão daquilo que te faz feliz. E, depois de abrir mão tantas vezes da felicidade, acho justo aceitar a realidade. Não por maldade, não por revolta. Simplesmente não nasci para isso. O amor existe, e é lindo! Eu mesmo já senti. Mas digo que não nasci para ser amado. Logo, não nasci para amar.

Agora a Fênix mitológica voa para longe dos conceitos, em busca da única coisa que o mundo não pode lhe roubar: Em busca do seu “eu”. Se isso for se afastar, se isso for esquecer, se isso for abrir mão de alguém, que seja. Quer seja o melhor para todos. Que seja o melhor para mim. Que a Fênix possa recuperar sua identidade, há muito perdida no meio da insanidade que minha vida se arrolou. E que seja prolatada a minha absolvição em relação a tudo que disseram sobre mim.

Que eu seja eu. Finalmente.

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