2.7.10

Batalha Celeste - Fragmento II


- Por que você não acredita em Deus?

- Vamos pensar juntos: Se o homem foi criação divina, como explicar os fósseis humanóides encontrados no norte da África? Se o homem é criação perfeita desde o início, como explicar o Australopitecus? Sinceramente, tudo faz parte da escala evolutiva, e já foi provado que Deus não entra nessa “dança da evolução” – Assim começava a entrevista de Ramsés Belatti, famoso paleontólogo e ateu convicto.

E durante quase uma hora, Belatti foi sabatinado com uma saraivada de perguntas sobre paleontologia e ateísmo. Sim, ele era estudioso do ateísmo, inclusive com séries de artigos em famosas revistas científicas, e seu renome internacional o proporcionava credibilidade no que dizia.

Na volta para casa, Ramsés havia ligado seu rádio. No alto dos seus quase oitenta anos, ele era bem conservado: seus cabelos ainda eram grisalhos, e combinavam com a pele branca e os olhos cinza que observavam naquele momento o trânsito caótico da ponte Rio-Niterói depois das seis da tarde. Em meio ao engarrafamento, seu rádio começa a chiar... um chiado muito forte, que incomodou Ramsés, fazendo que ele tentasse mudar o canal. De repente, uma sintonia começa a aparecer.

- Sssssssssssssssssssssssss... Ramsés... Ramsés... Sssssssssssssssssssssss... Escute... Ssssssss...

Ramsés ficou pálido: quem estava tentando entrar em contato com ele? Seria alguém com um rádio amador tentado se comunicar com um homônimo? Mas o chiado prosseguia, falando seu nome, até que o rádio parou de chiar, e depois de um breve silêncio começou a funcionar novamente, desta vez com som limpo:

- Ramsés, por que não acredita em mim? Por que não vê que tudo isso que você estuda e idolatra é criação minha?

Ramsés ficou pálido, calado, e a voz do rádio prosseguiu:

- Agora, Ramsés, te escolho para passar aos povos uma mensagem pela qual você será perseguido e escarnecido.

- Quem está falando comigo? – Indagou, incrédulo, Belatti – Se é alguma pegadinha, vou logo dizendo que não tem graça nenhuma!

- Ramsés, Ramsés... – Prosseguiu a voz, uma voz calma e paternal – Você disse durante toda a sua vida profissional que eu não existo. Justo você, de quem salvei das mandíbulas de um cão enfurecido quando ainda era bebê de colo. Justo você, que teve o milagre do nascimento de seu filho, com o cordão umbilical dando três voltas em seu pescoço. Milagre que você chamou de “ironias do destino”. Ramsés, quem fala contigo é o SENHOR dos destinos.

Ramsés suou frio. Seus olhos cinza ficaram quase brancos, assim como se acentuou sensivelmente o tom leitoso de sua pele após ouvir tal declaração. Sim, a única pessoa que sabia da sua história com o Rottweiller quando criança era sua mãe, já que seu pai era desconhecido. Trêmulo (por sorte o trânsito ainda estava parado, pensava ele), Belatti disse:

- De... Deus? É você?

- Ramsés, o desafio que lhe proponho é difícil, escute bem: As forças do mal estão se rebelando nas profundezas, e se utilizando da infidelidade humana para tomar a terra que criei para vocês. Ainda não é o tempo do fim, mas preciso mobilizar o maior número de santos dente os homens para uma batalha terrível.

Filho meu – Prosseguiu – Escute o que te digo: As pessoas não vão acreditar em você. Você será perseguido pela crítica; suas teses serão ridicularizadas, por serem baseadas em antropocentrismos; Ateus serão ferozmente contra ti, mas você vai conseguir passar a mensagem para quem precisa ouvir, isso eu posso te afirmar.

Ramsés perguntou, olhos esbugalhados:

- Deus, por que eu?

- Ramsés, eu te constituí por profeta antes mesmo que nascesse. Agora vá, o tempo é curto, e pregue a mensagem da conversão e da capacitação, da preparação e da fidelidade ao MEU nome. Vá, e mantenha a fé. EU serei contigo nessa missão.

De repente, o chiado passou, e o carro da frente começou a andar. O silêncio só foi cortado pela buzina furiosa de outro carro, que estava atrás dele. Ramsés voltava pra casa, e viu que o trânsito estava muito melhor. Mas sua surpresa estava ao observar o relógio: Apenas um minuto tinha se passado! Havia ele dado um cochilo minutado? Ao observar o banco do carona de seu carro, uma rosa branca pairava sobre o assento, e um papel debaixo com algo escrito. Ramsés pegou o papel e leu seu conteúdo:

- Eu, o SENHOR, serei contigo, Ramsés Belatti, profeta constituído por mim para a obra.

Ramsés deitou novamente essa mensagem, e seguiu em frente.

Agora ele sabia da verdade. E sentia: A guerra estava começando.

(continua...)

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