25.6.10

Batalha Celeste - Fragmento I


- Ah, essa chuva que não passa – Murmura Caio.

- Já disse pra parar de resmungar – Resmunga Vagner.

E realmente era uma chuva razoável, bem densa, daquelas que criam uma cortina densa e atrapalha completamente a visão de quem tenta caminhas sob ela.

- Será que essa chuva não vai passar?

- Caio, não sei. Se temos que andar, então vamos andar.

Enquanto caminhavam, relâmpagos cortam o céu tomado pela água abundante que cai do céu. O som dos trovões realmente eram altos e assustadores.

Caio, preocupado, perguntou:

- Vaguinho, será que é seguro subir com tanto raio caindo?

Vagner respondeu:

- Se é seguro ou não eu não sei, mas temos que prosseguir... Pelo menos foi isso que combinamos. Daqui a pouco chegaremos na cabana, e lá estaremos resguardados da chuva.

Um relâmpago mais potente cai próximo, e uma sombra enorme se revela no tempo em que a descarga elétrica emana sua luz.

Caio esbugalhou os olhos:

- Vo-vo-você viu aquilo???

- O quê, Caio? – Perguntou Vagner, já sem paciência.

Vagner olhou para Caio, e o viu completamente inerte, olhos arregalados, pele ainda mais pálida, dedo em riste para frente – Vaguinho... Olhe pra lá... – Falou, trêmulo.

Vagner virou o rosto, e a cena era aterradora. Em meio as árvores, um vulto enorme, com cerca de três metros de altura, sacudia seus longos braços, e ao observar os dois, deu um grito tão estridente que ambos colocaram as mãos no ouvido, e em um único instinto começaram a correr em direção à cabana, que já tinha suas luzes visíveis.

- Eu falei que era perigoso, Vaguinho!

- Cala a boca e corre!!! – Gritou Vagner.

O vulto observou os dois correndo, e lambendo os lábios começou uma corrida desconjuntada, que conforme foi acelerando se tornou um galope furioso. E começou a alcançá-los, com um grito estridente ainda em seus lábios negros.

Agora Caio e Vagner já estavam cansados, pois caminhavam faz tempo, e as forças começaram a faltar em suas pernas. Caio, em prantos, começava uma oração durante essa corrida. E sua oração era muito forte, e num tom tão alto que Vagner ouviu, e no calor do medo, começou ele também a orar, de forma atabalhoada, devido ao medo.

O vulto os alcançava. 200, 100, 50 metros apenas os separavam. Caio, em meio as suas orações, deu um grito muito alto:

- FAZ O MILAGRE, SENHOR! – Bradou num tom muito alto.

Nesse momento, um relâmpago extremamente forte caiu entre eles e o vulto. O impacto foi tão violento que os dois foram lançados ao chão. Esse relâmpago, ao invés de se dissipar, começou a criar raízes para os lados, culminando numa explosão de luz que ofuscou os dois irmãos.

Quando Caio recobrou a visão, segundos depois da explosão, viu que a chuva havia passado, e que não era um simples raio que tinha descido ao solo: onde caiu o raio, havia um homem de calça e camisa de maga comprida branca, com desenhos em vermelho em toda sua vestimenta. Em sua mão esquerda, um escudo prata; em sua mão direita, uma espada prata. Caio notou também que seus cabelos eram negros, e seus olhos eram castanhos claros, com um brilho que parecia fogo.

Ele estava em posição de combate. O que Caio não viu, mas seu irmão Vagner não conseguiu deixar de observar é que na sua frente havia um ser deformado, semi esquelético, rosto aterrorizante, com longas vestes negras rasgadas, uma enorme lança de chifre com duas pontas em suas mãos, e um capuz que não conseguia esconder suas feições demoníacas. Com um olhar furioso, o ser demoníaco observava firmemente o ser alvo, certamente celestial, que com olhos calmos o respondia em seu olhar.

Pela primeira vez, ouviu-se o som diabólico da sua voz:

- Que faz aqui, soldado de Deus? O que faz entre minhas presas e eu?

- Vim responder a oração de um Justo, demônio – Retrucou o ser celeste.

O demônio riu ruidosamente, uma gargalhada atemorizante, que fez os dois irmãos tremerem.

- Acha que é capaz de me deter, querubim? Vou lhe mostrar que esse mundo é meu e dos nossos!

Novamente o demônio deu um dos seus gritos estridentes e, imediatamente, lançou-se sobre o ser celestial. Na primeira investida, sua lança encontrou o escudo prata. Em uma segunda carga, a outra ponta da sua lança foi aparada pela espada prata. Com um impulso, o anjo (Caio já tinha certeza que se tratava de um anjo) empurrou o demônio para trás, se colocando e pose defensiva.

- Você pode se defender bem, querubim, mas não conseguirá se defender pra sempre. Aqueles dois são meus – disse, apontando para os irmãos – e você não poderá fazer nada! – Berrou, indo para uma nova carga.

Neste momento, a posição do anjo mudou, com o escudo à frente e a espada embaixo, para trás. E, no momento que o demônio saltou encima do anjo, esse lançou o braço com o escudo encima da lança, e com movimento Balanceado de trás pra frente, por baixo, e num golpe certeiro o anjo atingiu o pescoço do demônio, ejetando sua cabeça do resto do corpo. E o corpo putrefato caiu no chão, inerte.

Caio observava atentamente. Já Vagner havia desmaiado no momento que o demônio apontou para eles. Nesse momento Caio, com lágrimas nos olhos, deu alguns passos à frente, e disse.

- O-o-obrigado...

O anjo, caridosamente, estendeu sua mão em direção a Caio, um tipo de cumprimento, e apenas falou:

- Fico feliz em servir a um servo de Deus.

Nesse momento, novo relâmpago caiu no descampado, e com o fim do clarão Caio viu que o anjo também havia sumido. Com o barulho do raio, Vagner recobra os sentidos:

- Onde estou? Estou vivo? Estive sonhando? Caio, o que houve?

Caio apenas o observou e, com um suave sorriso no rosto, disse:

- Nada, meu irmão. Vamos pra cabana, estamos perto.

(continua...)

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